GOLPE SCAMMER NO BRASIL= MAFIA NIGERIANA- FALÊNCIA BANCO NOROESTE

Se voce acredita que histórias scammers são facilmente reconheciveis, veja esta história.
(1998), Olhe o que a Máfia Nigeriana foi capaz de fazer

A incrível história de Sakagushi O homem que fez sumir os 242 milhões do
Banco Noroeste dá sua versão sobre o desfalque
David Friedlander
  

Foto: Claudio Rossi
Sakagushi, numa foto feita sem que ele soubesse: "O dinheiro vai voltar"

  
Faz mais de um mês que Nelson Sakagushi, pivô da maior fraude bancária já descoberta no país, sai todo dia de sua casa num condomínio chique de São Paulo em direção à sede do Banco Noroeste, onde trabalha há catorze anos. Só que não tem ido ao banco para trabalhar. Chega por volta das 9h30, dá uma passada rápida por sua mesa, sobe até o último andar do prédio e tranca-se numa sala de reuniões privativa da diretoria do banco. Ali dentro, Sakagushi tem sido espremido exaustivamente, por até cinco horas seguidas, pelos diretores do banco e por detetives particulares. Os interrogadores querem que Sakagushi conte onde enfiou os 242 milhões de dólares que durante três anos fez sumir de uma conta do banco nas Ilhas Cayman, sem que ninguém suspeitasse de nada. Seu comportamento durante os interrogatórios é fora do comum. Ele repete sempre a mesma história, na qual ninguém acredita. Segundo Sakagushi, 210 milhões de dólares foram aplicados num misterioso fundo destinado à construção de um aeroporto da Nigéria. Mais surpreendente ainda: ele diz ter entregue 18 milhões de dólares a uma mãe-de-santo que freqüenta em São Paulo.
É uma história para deixar desconfiado até o ex-deputado João Alves, o anão do Orçamento que, para justificar sua fortuna, dizia ter ganho quase 200 vezes em loterias. "Essa história é no mínimo surrealista", diz Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, advogado dos ex-donos do Noroeste, cujo controle foi transferido há duas semanas ao banco espanhol Santander. A versão aparentemente absurda de Nelson Sakagushi é até agora a única explicação que existe sobre o sumiço do dinheiro do Banco Noroeste através de Cayman. Banqueiros tarimbados e mesmo técnicos do Banco Central acham muito improvável que Sakagushi, ainda diretor da área internacional do Noroeste, tenha agido sem a ajuda de pessoas mais influentes do banco.
O sumiço dos 242 milhões de dólares, simplesmente metade do patrimônio do Noroeste, foi descoberto em fevereiro, quase por acaso, quando surgiu uma dúvida burocrática sobre a conta de Cayman. Aberta a contabilidade, descobriu-se o rombo, que estava camuflado por documentos falsos. Os ex-donos do Noroeste, as famílias Cochrane e Simonsen, assumiram o prejuízo. Eles venderam o banco ao Santander por 480 milhões de dólares, mas só receberam 240 milhões. A outra metade foi usada para cobrir o rombo caribenho. Na semana passada, os ex-acionistas do Noroeste encaminharam ao Ministério Público uma notícia crime contra Sakagushi e quatro de seus subordinados no banco.
Os dólares do Noroeste começaram a desaparecer em 1995, por meio de transferências feitas por Sakagushi a partir da agência de Cayman. Uma investigação da consultoria Price Waterhouse descobriu que durante três anos Sakagushi esparramou 210 milhões de dólares por bancos da Suíça, Inglaterra, Estados Unidos e China. O dinheiro foi parar nas contas de 21 empresas que até agora o Noroeste não sabe a quem pertencem. É aqui que começa a fantástica história de Sakagushi. Ele conta que em abril de 1995 foi convidado a participar de uma fraude na Nigéria, que renderia muito dinheiro.
De acordo com essa versão, funcionários do governo nigeriano se juntaram a um grupo de empresários para construir um aeroporto internacional em Lagos. Eles precisavam de dinheiro para financiar a construção e a compra de equipamentos. A obra seria superfaturada e assim haveria dinheiro à vontade para quem entrasse no esquema. Sakagushi diz ter entrado com prestações de 5 a 10 milhões de dólares por mês. Afirma também que os depósitos eram feitos em contas indicadas por um diretor do banco central da Nigéria, que ele encontrou algumas vezes em Londres. É evidente que no banco ninguém acredita que um profissional com a experiência de Sakagushi, que tem 34 anos de carreira, tenha virado construtor de aeroporto na África. Acham que há alguma outra história que ele está tentando encobrir. "Eu não roubei nada, apliquei o dinheiro pensando em ter um bom rendimento para o banco", disse Sakagushi a VEJA na semana passada. "Se tivesse roubado, não estaria mais aqui", afirma ele. Essa alegação faz sentido. Mas, como o resto da história não faz, até prova em contrário, as reuniões no último andar do prédio do Noroeste continuam sempre patinando na mesma tecla.
Já que sabe onde o dinheiro está, por que Sakagushi não o devolve de uma vez? "Isso depende de uma negociação, é preciso ter paciência", diz o executivo. "Mas tenho certeza de que o dinheiro será reembolsado ao Noroeste." Do dinheiro que sumiu do Noroeste, cerca de 30 milhões Sakagushi trouxe para o Brasil. Uma parte dessa quantia ele não explica direito onde foi parar. Mas disse, em vários interrogatórios, na frente de pelo menos cinco pessoas, que deu alguns milhões de dólares para uma mãe-de-santo da casa de umbanda Caboclo de Fogo, que ele freqüenta. Entrou em contradição várias vezes na hora de dizer o valor das oferendas, que variavam de 5 a 18 milhões de dólares, de acordo com o depoimento. No fim, acabou dizendo que tinha enterrado 18 milhões no terreiro. "Ele disse que eram oferendas para que a mãe-de-santo fizesse trabalhos a favor dele e do banco", diz um dos interrogadores que acompanharam os depoimentos.
A VEJA, Sakagushi negou essa parte da história. "Nunca freqüentei mãe-de-santo", afirma o executivo. Mas os detetives contratados para rastrear o dinheiro sumido seguiram Sakagushi e confirmaram que ele continuou freqüentando o Caboclo de Fogo mesmo depois de descoberto o desfalque. Casado, 51 anos de idade, Sakagushi tem medo de ser seqüestrado em função de seu envolvimento com o golpe. Diz que não teria como pagar um resgate. De patrimônio pessoal, tem duas casas, três carros e um sítio no interior de São Paulo, tudo avaliado em 700.000 dólares. Tem também uma poupança pessoal de 400.000 dólares. "Se alguém me seqüestrar pensando que estou com o dinheiro de Cayman, sou homem morto. Não fiquei com um tostão, podem acreditar em mim." Talvez tenha razão. Mas, então, onde foi parar o dinheiro?

Postagem original - http://veja.abril.com.br/080498/p_106.html -

DESFECHO DESSA HISTÓRIA
(2005)

Condenada nigeriana envolvida na fraude do Noroeste


Esquema desviou mais de US$ 240 milhões do Banco Noroeste
Um tribunal nigeriano condenou a dois anos e meio de prisão uma mulher que tomou parte no maior caso de fraude internacional da história do país.
A ré - Amaka Anajemba - admitiu ter ajudo seu falecido marido a persuadir um alto funcionário do antigo Banco Noroeste, do Brasil, a transferir milhões de dólares para contas em diversos países.
O Banco Noroeste, que foi comprado pelo espanhol Santander, perdeu US$ 242 milhões durante a segunda metade da década de 90.
Além da prisão, Amaka Anajemba também vai ter que devolver parte do dinheiro desviado.
Comissão
Para tanto, ela vai ter que entregar à justiça nigeriana suas propriedades na Nigéria, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Suíça.
O julgamento dos outros dois acusados foi adiado para setembro.
Os nigerianos são acusados de convencer o o ex-diretor do Noroeste Nelson Sakaguchi a fazer uma série de pagamentos supostamente como parte de um projeto de construção de um aeroporto em Lagos, a capital nigeriana.
Os acusados teriam convencido o brasileiro de que ele receberia uma comissão do valor da obra, que na verdade nem existia.
"419 nigeriano"
Sakaguchi foi preso durante uma viagem à Nova York em 2002 e extraditado para a Suíça, onde ficou preso por mais de um ano.
A maior parte do dinheiro já foi recuperada.
Esse foi o maior caso já registrado do "419 nigeriano", golpe já conhecido pela justiça do país a ponto de ser famoso pelo número do artigo da lei que o tipifica – como o 171, que tipifica o estelionato no Brasil.
Os autores de um 419 nigeriano – golpe aplicado há mais de 20 anos – começam enviando cartas para milhares de pessoas prometendo comissões milionárias em obras irregulares na Nigéria.

Postagem original :
 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2005/07/050716_nigeriaim.shtml